sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Crime e castigo

Há algum tempo escutei, na rádio de notícias que acompanho diariamente, um médico brasileiro (desculpe a falta de maiores referências, peguei a reportagem já em andamento) versando sobre um tema nevrálgico e por demais espinhoso: a pedofilia. Mais especificamente, sobre a castração química de pedófilos. Se minha (parca) memória não me trai, esse profissional conduzia um estudo sobre o impacto das drogas inibidoras de libido aplicadas em alguns pacientes, pedófilos julgados e condenados como tal.

Lembro-me que, naquele momento, fiquei cativado pelo tema, se é que se pode expressar apreço por tal matéria. Queria entender, naquele momento, qual a abordagem que o médico dava ao assunto. Nunca tive contato, pelo menos conscientemente, com nenhuma das duas partes envolvidas nesse crime abjeto, certamente dos mais chocantes que há: nem com o (a) abusado (a), nem com o (a) abusador (a). O que dizer a uma vítima de um crime dessa natureza? O que dizer ao perpetrante do crime? Qual abordagem há que se utilizar para com o criminoso, tratado nesses casos como padecedor de um desvio de origem mental? Creio que pouquíssimas pessoas são capazes de encarar um pedófilo como um paciente, e não como um criminoso são em suas faculdades mentais, padecedor apenas de um desvio de conduta sexual/moral.

Me veio esse tema por conta de uma matéria da publicação alemã Der Spiegel, ilustrando a irritação de políticos da União Européia frente à uma medida polêmica do primeiro-ministro polonês, qual seja, a imposição categórica de castração química a pedófilos, não a pedido do condenado (única hipótese aceita até hoje), e sim como parte do veredito de condenação, via administração de umas das 3 drogas que induzem a castração química: certos antidepressivos específicos; medicamentos denominados anti-andróginos; ou uma classe de droga normalmente administrada para pacientes de câncer de próstata. Os dois primeiros reduzem o desejo sexual, e o terceiro é o único que pode ser classificado verdadeiramente como "castrador químico".

Um ato finalista, sim. Porém condenável?

Na realidade, não sou capaz de imaginar o que seja um mamífero vivendo sem libido, já que inerente a todos os nascidos saudáveis. Contudo, também não concebo a idéia que um adulto seja capaz de abusar de uma criança. E, entre uma idéia que não sou sou capaz de conceber e outra, que a realidade então seja baseada na primeira, e não na segunda.


Naressi

PS: o título do post remete à obra de Fiódor Dostoiésvsky.

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