Não tenho o costume de retomar assuntos tratados, com exceção feita à alguma atualização relevante do fato postado.
Contudo, durante a semana em que o Brasil assistiu, aflito e esperançoso de um final feliz, o caso do cárcere privado de Santo André, um fato me chamou a atenção. Um personagem externo aos acontecimentos se tornou onipresente. Um tal de Marcos do Val.
Pelo que pude constatar ouvindo-o falar, ele parecia ser uma entidade superior, um super-herói de carne e osso, um misto de ninja, James Bond e Professor Pardal, com uma pitada de Bruce Lee.
Crítico voraz dos padrões utilizados pela Polícia no caso, ele soava como a solução dos problemas, o anjo salvador por quem todos ansiavam.
Todavia, parece que a história não é bem assim…
“O sujeito atarracado e evidentemente fora de forma que tem aparecido na TV como “instrutor da SWAT” para criticar a polícia brasileira quando os assuntos são técnicas de invasão e controle de situações como a do seqüestro de Santo André, não tem credenciais para isso.
Marcos do Val é um instrutor de Artes Marciais, dono de uma empresa sediada na cidade de Serra, no Espírito Santo, que oferece cursos para policiais em todo o Brasil, com poucos clientes. Já foi recusado pelo GATE, a PM paulista que agora tanto critica. Sua especialidade, segundo o site de sua empresa, são as técnicas de imobilização. Por sua desenvoltura nos últimos dias, parece ser também especialista na arte do engodo e da autopromoção.
No site em que vende seus cursos, o capixaba se diz faixa preta em Aikidô e ex-instrutor da Academia de Polícia Civil daquele estado. Não conta de qual operação de resgate participou, nem qual grupo de operações especiais integrou. Sua sorte é que, nas muitas entrevistas que deu desde sexta-feira, nenhum repórter – aí incluída Ana Maria Braga –, lhe fez essa pergunta. A resposta está na cara (e no resto do corpo também, justiça seja feita): nunca participou de uma invasão, nunca negociou com seqüestradores, que dirá pular de rapel do teto de um conjunto habitacional para salvar duas adolescentes de um homem armado.A farsa construída pelo sr. do Val se beneficia muito da crença equivocada que existe por aqui sobre o que é SWAT nos Estados Unidos. A cada três palavras que ele diz, uma é SWAT. É seu carimbo, sua credencial. Seu cartão de visitas, seu distintivo (está estampada na camiseta que usou em todas as entrevistas). Chega ao ponto de dizer que é, há nove anos, “policial da SWAT”. Mais uma vez, parece acometido de grave esquecimento, ou ignorância. A SWAT não existe. Vou repetir: a SWAT, assim, com artigo definido, não existe. Aos fatos: SWAT – sigla para Special Weapons And Tactics – é o nome convencional para grupos de operações especiais e de alto risco nas polícias americanas. Muitos nem têm esse nome. Ou seja, falar em “a SWAT dos Estados Unidos” é o mesmo que dizer “a PM do Brasil”. E “policial da SWAT” não existe.
O pior é que se trata de uma armação de baixa qualidade. Por exemplo: em seu site, Marcos do Val gaba-se de ter sido agraciado com o título de “membro honorário da SWAT". Aliás, “a primeira feita pela SWAT a cidadãos não-americanos”. Vejamos: a foto da placa, logo abaixo, informa: “honorary member of Beaumont Policia Department SWAT”. Entenderam? Foi a primeira vez na história que a SWAT de Beaumont, cidade texana de pouco mais de 100 mil habitantes, agraciou um não-americano com tão valiosa comenda.Vocês nem precisam acreditar em mim. Ele mesmo se mostra aqui: www.cati.com.br”
Transcrito ipses litteris do blog do Reinaldo Azevedo
Naressi
Nenhum comentário:
Postar um comentário